Dermatite de Contato

Dermatite de contato é uma reação inflamatória cutânea caracterizada morfologicamente por lesões do tipo eczema, ou seja, vermelhidão, pequenas bolhas, saída de secreção amarelada, pápulas, escamas e posteriormente alteração na da pele que a torna espessa e rígida, que podem ocorrer isoladas ou simultaneamente. Essas dermatites são resultantes da exposição direta a algum agente externo (“molécula estranha”) com a participação ou não de luz ultravioleta (fotons) na superfície da pele. Embora a dermatite de contato (DC) seja frequentemente associada à causa alérgica, cerca de 80% das dermatites de contato são provocadas por substâncias irritantes, levando à DC não alérgicas ou irritativas.

O processo inflamatório da dermatite de contato alérgica (DCA) é mediado por mecanismos imunológicos, podendo ser causada por substâncias inorgânicas, orgânicas, vegetais ou sintéticas. Até 1995 estimava-se que teríamos no meio ambiente ao redor de seis milhões de produtos químicos, destes cerca de três mil já foram citados na literatura médica como causadores da dermatite de contato, sendo que 30 seriam responsáveis por 80% das DCA. Quando o agente causador da dermatite pode ser identificado e evitado, a cura da dermatite é evidente. Se o contato persiste, a dermatite pode se tornar crônica e de difícil tratamento, podendo até impedir as atividades diárias do indivíduo.

O teste de contato (patch test) é sem dúvida o procedimento diagnóstico mais eficiente, especialmente nos pacientes com dermatites com menos de 12 meses de duração. Alguns pacientes com DC crônica (por mais de 12 meses) ou com episódios repetitivos de DC nunca se recuperam da dermatite apropriadamente, apesar do afastamento do agente causal e do tratamento clínico. Devemos, portanto, tentar descobrir o mais cedo possível o agente/substância a que o paciente possa estar sensibilizado para que a sua dermatite de contato não se cronifique.

As DC são responsáveis por 10% das consultas atendidas em consultórios de dermatologistas e alergistas. Mais de 90% de todas as dermatoses ocupacionais são DC causadas pelo contato direto com produtos químicos no local de trabalho.

As reações alérgicas cutâneas mais comuns frente a uma substância exógena são as dermatites eczematosas, e bem menos frequentes temos as urticárias de contato, ambas podem ser localizadas ou generalizadas. Inicialmente devemos procurar uma exposição causal de agentes suspeitos no trabalho ou em casa. O paciente dever ser indagado sobre a sua profissão, ocupação e hobby. A história deve ser relacionada com a exposição cutânea e a dermatite.

Abaixo relacionamos as regiões anatômicas mais acometidas:

  1. a) Pálpebras – a DCA é a dermatite mais comum, frequentemente causada por cosméticos aplicados nos cabelos, face, unhas e nas áreas em volta dos olhos. Em torno de 25% dos pacientes com dermatite atópica apresentam dermatites crônicas nas pálpebras. Alguns alergistas-dermatologistas dizem que as pálpebras são as “antenas” das dermatites de contato.
  2. b) Mãos – eczemas das mãos devem ser considerados como sintomas, e não como diagnóstico. Devemos ter em mente os diagnósticos diferenciais mais comuns, como disidrose, psoríase e dermatite atópica. Uma dermatite de contato pode complicar uma dermatite já estabelecida anteriormente. A prevalência de DCA em pacientes com dermatites crônicas de mãos está entre 17 a 30%, sendo mais frequente no dorso das mãos, e na DCI (dermatite de contato irritativa) as lesões são mais comuns nas regiões das palmas e na mão que o indivíduo mais usa (destro ou canhoto). Todos pacientes com dermatites crônicas de mãos devem se submeter aos testes de contato.
  3. c) Face – é o local mais frequente das fotodermatites. O status cosmeticus é uma condição vista às vezes em pacientes que usaram cosméticos “livres de alérgenos” ou sabonetes, que referem prurido, queimação ou “pinicação” após a aplicação, sendo na maioria das vezes de causas irritantes, e não alérgicas.
  4. d) Couro cabeludo – o couro cabeludo é particularmente resistente a contactantes. Alérgenos aplicados no couro cabeludo ou nos cabelos frequentemente produzem reações nas pálpebras, orelhas, face, pescoço ou mãos, sendo que na maioria das vezes o couro cabeludo é preservado.
  5. e) Tronco – bijuterias, colares e elásticos (borracha) de acessórios de vestimentas são causas comuns de DCA.
  6. f) Axilas – em dermatites localizadas na concavidade da axila, pensar nos desodorantes como causa, e na lateral da axila pode ser algum produto químico adicionado nas roupas (amaciantes, sabões, etc.), ou nos tecidos (formol, corantes, etc.).
  7. g) Pernas – a dermatite crônica pela estase vascular frequentemente é complicada por uma DCA, em 60% dos casos temos testes de contato positivos a pelo menos uma substância, sendo os mais comuns o Timerosal, a Neomicina, o Mercúrio Cromo e a Nitrofurazona. A incidência de dermatites em regiões com estase venosa (dermatite ocre) é de 3 a 10 vezes maior que nas sem estase venosa.
  8. h) Vulva – vulvites e dermatites podem ser provocadas por drogas tópicas, cosméticos, gel anticoncepcionais ou preservativos (látex).
  9. i) Região perianal – prurido anal e proctite podem ser provocados por drogas tópicas, papel higiênico (perfumes, corantes). A ingestão de temperos, antibióticos e laxantes pode causar prurido anal.

Regiões anatômicas e causas possíveis de dermatite de contato alérgica:

Localização Causa possível
Couro cabeludo Tintura de cabelo, “permanente”, xampus
Face Cosméticos (para mãos e face)
Pálpebras Pálpebras Esmalte de unha, rímel, “sombra”
Orelhas Batom, pasta de dentes, frutas
Pescoço Pescoço Colares, perfumes, cosméticos, bronzeadores
Tronco Metais, elásticos, roupas íntimas
Axilas Axilas Desodorantes, tecidos (corantes, produtos químicos)
Genitálias Genitálias Fármacos, cosméticos, preservativos (látex)
Mãos Mãos Ocupacional, sabões, detergentes, luvas, plantas, cosméticos
Pés Calçados, meias

Uma bateria de teste padrão é muito útil, e pode às vezes ser positiva em 80% dos casos. As substâncias mais comuns que produzem DC são: borracha, cosméticos (perfumes, conservantes, corantes), drogas tópicas, produtos químicos e níquel.

A exclusão do agente causal é a terapêutica mais eficaz na dermatite de contato, e não pode ser substituída por nenhuma outra forma de tratamento. Salientamos que o diagnóstico etiológico se baseia numa entrevista completa, exame dermatológico minucioso e nos testes de contato realizados segundo as normas de padronização internacional.

Sobre o autor:

Dr. Antônio Penido

CRM 187.391

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