Alergia a insetos

Alergia a himenópteros é uma reação de hipersensibilidade ao veneno dos insetos da ordem Hymenoptera, em indivíduos que já tiveram contato prévio. Existem aproximadamente 300.000 espécies de himenópteros descritas e essa ordem representa em torno de 10% de todos os seres vivos. Apesar dos himenópteros serem mais conhecidos pelas suas ferroadas em humanos, esses insetos desempenham relevante papel ecológico. A polinização e a produção do mel no caso das abelhas, a redução de pragas na agricultura, além do papel decompositor e predador das formigas, fazem parte do essencial ciclo da vida. Anualmente mais pessoas morrem por ferroadas de himenópteros do que por todos os outros animais venenosos combinados.

 As espécies de importância clínica pertencem às famílias: Apidae, Vespidae e Fomicidae (abelhas; vespas e marimbondos e formigas, respectivamente). A alergia cruzada entre os venenos dos himenópteros é comum entre as espécies de vespas, mas rara entre abelhas e vespas. As identificação do inseto responsável pela reação alérgica e de seu habitat são de suma importância para o diagnóstico, prevenção e tratamento dos pacientes.

Os acidentes com himenópteros são comuns na infância, provavelmente pelo fato de as crianças estarem mais expostas ao ar livre. A maioria das reações é resultado do efeito tóxico do veneno e limitada ao local da picadura, sendo sua abordagem feita ambulatorialmente. As reações extensas, as anafiláticas e as tóxicas graves poderão necessitar, além da abordagem ambulatorial, de cuidados hospitalares e tratamento intensivo.

A maioria das fatalidades acomete adultos maiores de 40 anos de idade. São relatadas reações tóxicas e sistêmicas, devido ao excesso de veneno, nos casos em que se verificam mais de 100 picadas e de óbito, quando se constatam mais de 500 picaduras.

Reações alérgicas a picadas de insetos podem corresponder a três categorias: local, local extensa, sistêmica ou anafilática:

  • Reação local: caracteriza-se por vermelhidão, inchaço e dor no local da picada e a maioria se resolve em horas. Picadas de formigas podem levar à formação de pústulas (bolhas com pus), devido à toxicidade do componente alcaloide do seu veneno. Podem se complicar tardiamente com infecções bacterianas secundárias.

 

  • Reação local extensa: acomete grande área da pele, em geral com mais de 10 cm de diâmetro e em contiguidade com a região da picada. Manifesta-se por desconforto, dor, inchaço e vermelhidão no local, podendo haver coceira. Piora nas 24-48 horas iniciais e, em geral, melhora após cinco a 10 dias. Praticamente todos os pacientes que apresentam esse tipo de reação tendem a repeti-la nas exposições subsequentes. Ocasionalmente, náuseas e vômitos podem acompanhar esse quadro.

 

  • Reação sistêmica ou anafilática: As reações sistêmicas ou anafiláticas acometem em geral a pele e mais um órgão, em geral dos sistemas gastrintestinal, respiratório e/ou cardiovascular. Acontecem poucos minutos após a ferroada e quanto mais rápida o início da reação, mais grave sua evolução. O risco de recorrência da reação sistêmica grave é menor em crianças do que em adultos.

Os testes cutâneos por puntura (Prick testes) e/ou intradérmicos são os testes de escolha para o diagnóstico, sendo o primeiro mais específico que o segundo, porém menos sensível. Devem ser realizados três a seis semanas após a reação à picada, evitando-se o risco de resultados falso-negativos que podem ocorrer imediatamente após o acidente.

A pesquisa de anticorpos IgE específicos in vitro (exames de sangue no laboratório)  poderá ser realizada para confirmação diagnóstica. Em 5 a 10% dos pacientes há histórico de reação alérgica sistêmica aos himenópteros com teste cutâneo negativo e teste in vitro positivo. Além disso, o teste in vitro é uma opção em casos de doenças extensas de pele e em pacientes com história de reações sistêmicas ou anafiláticas.

Em relação ao tratamento nos casos de reação sistêmica ou anafilaxia, o paciente deve ser colocado em decúbito dorsal com as pernas elevadas, exceto nos casos acompanhados de insuficiência respiratória. As mudanças de postura, especialmente para a posição vertical, podem contribuir para um desfecho fatal.  A droga de escolha para o tratamento da anafilaxia é a adrenalina ou epinefrina, aplicada por via intramuscular profunda na região anterolateral da coxa.

A imunoterapia deve ser avaliada e prescrita pelo especialista em alergia e imunologia. A imunoterapia para o veneno do himenóptero (IVH) é mundialmente aceita, realizada por via subcutânea, segura e eficaz para o tratamento e prevenção das reações anafiláticas a picadas de himenópteros. É indicada para indivíduos com história clínica compatível e evidência de anticorpos IgE veneno-específicos. É o único tratamento que pode, a partir da imunomodulação, modificar a resposta biológica e alterar o curso natural do fenômeno alérgico, aliviando, assim, a ansiedade do paciente em relação a uma possível picada e prevenindo futuras reações alérgicas sistêmicas e até mesmo a morte.

Pacientes alérgicos devem receber orientações com o objetivo de reduzir o risco de novas picadas:

  • Evitar comer ou beber ao ar livre, especialmente alimentos e bebidas açucaradas.
  • Ter cuidado em quintais e jardins, na manipulação de lixo, piqueniques e qualquer outra atividade ao ar livre.
  • Não beber água das torneiras ou mangueiras no
  • Monitoramento de áreas com piscinas.
  • Usar sapatos ou tênis quando estiver ao ar livre.
  • Em passeios de bicicleta ou motos usar capacetes, mangas compridas e luvas.
  • Não usar roupas soltas que permitam a penetração de insetos. Eles são atraídas pelas cores brilhantes e padrões florais. Vestir roupas claras, tons de branco, verde e pastéis.
  • Evitar perfumes, loções, sabonetes, colônias e preparações aromáticas para o corpo e cabelos.
  • Verificar se há insetos dentro do veículo, antes de dar a partida e manter as janelas Fechadas.
  • Não fazer movimentos rápidos ou bruscos próximo dos insetos. A maioria das picadas ocorre quando eles se sentem ameaçados.
  • Todos os ninhos e colmeias na vizinhança devem ser removidos por um profissional.
  • Não confiar em produtos repelentes de insetos como forma de proteção.
  • Utilizar sempre pulseiras ou placas de identificação alérgica.
  • Portar a adrenalina autoinjetável. Os membros da família e colegas do paciente devem aprender a forma de aplicação.
  • Procurar assistência médica e o hospital imediatamente após a administração da adrenalina autoinjetável.

Sobre o autor:

Dr. Antônio Penido

CRM 187.391

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